quinta-feira, 20 de março de 2008

Torrão Sacramento, a luta constante pelo jornalismo independente



O meu Amigo Torrão Sacramento é Jornalista

e Director do Jornal "O Ilhavense" desde 1997.

Vale a pena reencontrá-lo todos os meses nas sucessivas edições daquele Jornal (dias 1, 10 e 20), através da leitura atenta dos seus Editoriais e dos textos de opinião de autores de diversos estilos e quadrantes. E aproveitar para verificar o cuidado com que nos transmite as notícias que reflectem, tão correctamente quanto possível, o que se vai passando a nível concelhio, regional e nacional.

Poderá acontecer que nem sempre estejamos de acordo com o que escreve, ou com o que publica, mas seguramente acabaremos por concluir que Torrão Sacramento não desiste de procurar ser, cada vez mais, o Director de um Jornal livre e aberto a todos na sua diversidade de ideias e sentimentos.

E é exactamente este seu jeito de lutar incessantemente por se manter um Jornalista independente e teimosamente preocupado com a sua própria coerência, que me obriga a trazê-lo até aqui. Para que faça parte deste espaço a sudoeste.





Nunca deixando de ter presente o grande objectivo de promover e defender o que em cada momento considera ser o melhor para o concelho de Ílhavo, faz dos seus Editoriais uma insistente batalha sob o lema "Por Ílhavo"



A realização dos Jogos Florais do Concelho de Ílhavo
tem sido um dos sonhos que tem conseguido realizar com o apoio essencial de Domingos Cardoso e outros amigos e colaboradores de "O Ilhavense".




Em 21 de Outubro de 2006 os Jogos Florais do Concelho de Ílhavo

tiveram como patrono

Américo Teles.



domingo, 16 de março de 2008

José Barreto, a amargura inquietante de poeta




O meu amigo José Barreto (com quem fui cúmplice nos tempos do Serviço Cívico que, com o apoio do MFA, organizámos no Bairro dos Pescadores da Costa Nova) é um ilhavense de alma plena que desde há muitos anos acredita que a cultura é uma imensa praça pública onde todos nos podemos reunir sem necessidade de despirmos as diferenças que aparentemente nos separam. Da sua sensibilidade, recortada incessantemente pela amargura inquietante de poeta, deixo-vos uns brevíssimos excertos de uma notas que elaborou a meu pedido (e que certamente poderemos ler mais desenvolvidas um dia destes, quando José Barreto decidir fazer o livro que estas suas palavras fazem adivinhar).


(...)


"Nascido filho de pescador à linha no bacalhau e de mulher doméstica, ambos de Ílhavo, neto de avô homem do mar e mulher do campo, pelo lado paterno, de homem serrano, com vistas para a laguna do Vouga, relojoeiro e ourives de profissão, e mulher gafanhôa pelo lado materno, nasceu pobre de recursos mas honrado. Criado nos becos ao centro da Vila, nos frios da invernia ou sob o tecto folhado das tílias do jardim municipal, passou meses à borda d'água com o cheiro salgado dos lugres por companhia, dias a marulhar ao resguardo do Neptuno, navio bacalhoeiro à linha fundeado no Tejo, com lembranças de fragatas afanadas no estuário e a ausência determinante do convívio com mais garotada. Foi protegido de mãe, filho único, quase tímido, cheio de afectos e recônditos de alma, talhado nas mínguas da convivência e das celebrações.

(...)

"Aprecia a boa literatura, tem um fraquinho por gastronomia e não vagabunda mais porque o pesado sentido de responsabilidade que o move não lho permite. Politicamente à esquerda socialista, não tem os políticos em muito boa conta, odeia as manobras da classe e se pudesse viver sem eles dispensava-os sem hesitar. Sobre o liberalismo económico vigente
acode-lhe pensar que o mundo anda às avessas e em boa parte perdido. "


(...)

"Se um dia puder publicar mais uns quantos livros importará fazê-lo por sua conta e risco, livre, que as letras não podem ter grilhões nas asas, nem estar sujeitas a políticas, influências ou paradigmas."










Em Dezembro de 1997
publicou "Diário de bordo dum pescador - Na rota do bacalhau".
Das palavras escritas pelo próprio José Barreto em "Nota do Autor" sublinho:


"Obra de ficção (romance) o "Diário de Bordo dum Pescador" é uma narrativa de factosimaginários,que não repugna à verdade, formando uma história fictícia. Personagem olhada frequentemente e apenas como expoente técnico e operacional da pesca do bacalhau, tardiamente perpetuado no espaço cultural da minha terra, cabe-me assim prestar-lhe as honras e o respeito há muito merecido."


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Em Junho de 1999
publicou
"Cânticos de Paixão e Outras Cores" (Poesia)
que dedicou
"A todos os náufragos da paixão, quaisquer que tenham sido as suas cores."


São desse livro os três poemas que aqui transcrevo:



A luta


Existe em ti
Meu amor,
A força viva
Das águas em rápido...
A subtileza
Da espuma dos oceanos...
A liberdade!
Existe em ti
Meu amor,
O colorido
Das aves organizadas
E o trilhar
Das escarpas em flor...
A plenitude!
Existe em ti
Meu amor,
A vontade ainda nunca
Das lágrimas sempre ocultas,
O sorriso ainda frágil
Dos sonhos mal desbravados...
A nostalgia!
Mas é preciso continuar.




Em memória de mim

Há casas que se erguem no meu mirante
Como escolhos,
Empecilhos ou batidelas nos olhos.
Há verdes campos
Que ainda teimam em crescer,
Milhos embandeirados,
Trigos doirados
A contrariar o que irá acontecer.
Nestas terras de agras abertas
Vi meus avós labutar
Numa hora em que era preciso viver,
Bulir, e manter as contas certas.

Cheios de suor e de alegria
Não conheciam tristezas...
Vingavam como searas de loiros trigos
E campos verdes de milhos espigados
Irrompendo das incertezas.



Destino
Quis a musa
Que me cumprisse assim...
Rio de leito profundo
A porfiar-me neste mundo,
Até ao fim!...