Sobre este poeta ilhavense escrevi um dia
"...Os poetas vivem no desassossego de fazer do efémero de cada gesto o ponto de partida para a eternidade. E é dessa batalha constante que se faz a força de muitos dos poemas de Augusto Nunes..."
Em Março de 2006, numa edição da Secção Cultura da A.C.D. Os Ílhavos, publicou o livro
"Os Espelhos da Água"
do qual aqui vos deixo hoje três poemas.
Espelho de água
acendem-se as cidadelas
confundem-se com elas
as estrelas...
e os espelhados
espalhados
brilhos delas...
p'lo debrum das casarios
as vigias dos navios
amarelas
parecem sóis
e as dos albóis
as velas
da luz dos lares...
da cruz dos altares
das capelas...
revérberos de melancolia
que em noites de calmaria
dão à poesia
o tom das aguarelas...
Pregões
saía de casa...manhãzinha cedo...
e mal entrava na rua de Espinheiro
gaguejando no pregão e no praguedo...
acordava o povo... um barateiro... também pelo cantar do passaredo
prometia a taluda um cauteleiro...
e beijando o sol ainda o dia a medo
já aos cães se ria um burro de azeiteiro... pousando as canastras no lagedo
discutiam as peixeiras de nariz no dedo
porque a "vivinha da costa" duma delas tinha cheiro... até que dos beiços de um funileiro
um som de gaita vinha a terreiro
juntar seu banzé ao sublime enredo...
O Aguça
de gaita de beiços anuncia
que chega
de roda galega
à freguesia...
arranja pratos
panelas velhas
agrafa selhas
sola sapatos
amola facas...
as tesouras todas...
as das costuras e as das podas
reforça forras fracas
solda latas e latões a estanho
como fundilhos rebita chapas
crava ilhóses na dobra das capas
e pica o gume cego do gadanho...
cega os olhos das enxadas e marretas
prega pedaços de pneu no pau das chancas
espeta protectores nas tamancas
e endireita às umbrelas... as varetas... a mim agora só me afia os versos
até que chegue o caldeireiro...
para que num dia vindimeiro
me desempene os que por aí há dispersos...
3 comentários:
Sinceramente, não conhecia, mas vou procurar ler mais porque, gostei muito da amostra.
Um abraço e bom fim de semana ;)
Obrigado por estes poemas que nos fazem recordar momentos da nossa infancia e retratos da nossa terra. Vejo que tens evoluido muito
um grande abraço
Parabens ao Augusto pelos belos poemas que compoe.
Um apertado abraco da familia no Canada!
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