segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O poeta cantor Geraldo Alves




Geraldo Alves, natural de Ílhavo, é um velho amigo e companheiro de muitas horas de cantigas de palavras abertas. Com Artur Ramisote formou um duo de cantautores que ultrapassou decididamente os limites do sucesso obtido em festivais e espectáculos locais.

Em 2003 publicou o seu primeiro livro "Cravos com espinhos" numa edição da ACD "Os Ílhavos".









É deste livro que escolho três poemas:







O meu país




No meu país
existe um rio de ternura
corre nas veias dos poetas do meu povo
o meu país
faz poesia da amargura
e da loucura
vinho velho e sangue novo


O meu país
chora na voz de uma guitarra
embebeda-se no sangue das touradas
ri do passado
e da saudade a que se agarra
cai de joelhos
com a alma torturada


O meu país
é uma criança irrequieta
brinca com a vida
hoje perde amanhã ganha
e à noitinha
mal se deita logo aquieta
cavalga o sonho não há nada que o detenha


O meu país
de cheiro a vinho e maresia
espuma do mar
envelhecida de emoções
vive do sonho
renovado dia a dia
e das mãos nuas calejadas de ilusões



E os olhos inquietos beijando o mar







Maria



Maria dos ventos incerta
aberta nos livros da paz
prenhe de sonhos e poentes
quentes
beijos que não dás



Maria dos montes caída
traída pelos donos da luz
feita perfume num soneto
preto
canto que seduz


Sai dessa imagem de folia
que os teus lábios quem diria
nunca souberam a mel


Vai que o teu mundo oh Maria
tem teu ar de manhã fria
não és fúria de corcel



Maria das mãos retalhadas
cansadas de tanto labor
vendem-te a alma pelas ruas
cruas
rimas sem amor


Maria dos seios caídos
erguidos num gesto sem fundo
nunca permitas que uma quadra
errada
fique no teu mundo



Portas por abrir



Na terra onde nasci
os homens morrem sem ver
e os cravos que eu nunca vi
serão a força a beber

Que eu canto poetas loucos
portas abertas ao vento
e a noite e os gritos roucos
canções de raiva lamentos


fugi do tempo e o amanhã
sorriu p'ra mim
cantei amor a dor e o fim

saltei o sol bebi o mar
matei a morte
vesti o trigo abrigo bem forte

2 comentários:

Rosa Vieira disse...

Olá, mais uma vez parabéns pela ideia
adorei reler estes poemas do nosso amigo Geraldo,

Fica aqui o desafio, quando gravam mais umas canções, como só vocês sabem fazer.

Fico muito feliz, porque sou rica tenho amigos

Beijinhos
Rosa

Anónimo disse...

Toni:
Gosto do teu blogue, onde há gente boa e viva. Gosto de rever aqui os meus amigos, quebrando assim um pouco a distância física que nos separa. Gosto de andar por aqui. E aviso já que vais ter de me aturar como visita frequente.
O grande abraço de sempre do
Viriato